Se você já sentiu tontura, náusea ou dor de cabeça ao jogar, saiba que não está sozinho. Esse fenômeno, conhecido como cybersickness, ou enjoo de movimento em jogos, atinge muitos jogadores, tornando a experiência frustrante e limitando a diversão.
O problema ocorre quando há um conflito entre o que seus olhos veem e o que seu corpo sente, deixando o cérebro confuso e gerando reações adversas.
Essa condição é semelhante à cinetose, um distúrbio sensorial que acontece em viagens de carro, barco ou avião, e é desencadeada por certos elementos dos games, como perspectiva em primeira pessoa, movimentos rápidos de câmera e gráficos com muitos efeitos visuais.
Mas será que dá para evitar o incômodo e continuar jogando? A seguir, você entenderá por que o cybersickness acontece, quais são seus sintomas e, o mais importante, como minimizar os efeitos.
O que é enjoo de movimento em jogos?
O enjoo de movimento em jogos, conhecido como cybersickness, faz parte de um fenômeno mais amplo chamado cinetose. Segundo o Manual MSD Versão Saúde para a Família, o problema ocorre quando há um conflito entre as informações sensoriais enviadas ao cérebro.
Enquanto os olhos percebem deslocamento na tela, o corpo permanece estático, criando uma confusão que resulta em sintomas como tontura, náusea e fadiga.
Embora esse problema seja mais comum em games, a Super Rádio Tupi aponta que a cybersickness foi inicialmente identificada em ambientes de realidade virtual, onde até 80% dos usuários relataram sintomas como tontura e fadiga ocular.
Além disso, essa sensação também aparece em atividades cotidianas, como rolagem excessiva do feed no celular ou filmes com muitos efeitos visuais.
A principal diferença entre a cinetose tradicional e o enjoo de movimento nos jogos está no estímulo que provoca o desconforto. No primeiro caso, o corpo se move enquanto os olhos dizem que ele está parado, como ocorre em viagens de carro ou barco.
Já no cybersickness, acontece o oposto: os olhos enxergam o movimento, mas o corpo não se desloca, levando o cérebro a interpretar essa contradição como um problema e gerando reações adversas.
Quais são os sintomas do enjoo de movimento nos jogos?
Os sintomas do enjoo de movimento em jogo tendem a aparecer de forma sutil no começo, mas podem se intensificar com o tempo. Um leve desconforto visual ou uma sensação estranha no estômago podem evoluir conforme o tempo de exposição aumenta.
Em casos mais intensos, o mal-estar fica insuportável, forçando a interrupção da jogatina. Veja quais são os sintomas mais comuns:
- Tontura e sensação de desequilíbrio: a desorientação acontece porque o cérebro recebe informações conflitantes sobre movimento;
- Náusea e mal-estar estomacal: o organismo reage ao conflito sensorial de forma semelhante a cinetose;
- Suor frio e dor de cabeça: a sobrecarga sensorial dificulta o processamento dos estímulos visuais, resultando nesses sintomas físicos;
- Fadiga ocular e dificuldade de concentração: o esforço excessivo dos olhos para acompanhar os movimentos na tela gera cansaço extremo.
A intensidade dos sintomas varia de pessoa para pessoa. No meu caso, percebi o problema pela primeira vez jogando Homem-Aranha. A movimentação da câmera, os giros rápidos e o balanço da teia começaram a me deixar tonta.
Inicialmente, achei que fosse algo pontual, mas o desconforto se repetiu em jogos como Resident Evil, Tomb Raider e Genshin Impact, mostrando que se tratava de um padrão.
Se você já passou por algo semelhante, pode estar lidando com cybersickness. Identificar os sintomas logo no início ajuda a encontrar soluções para reduzir o desconforto e tornar a experiência de jogo mais fluida.
Por que algumas pessoas sentem mais enjoos com jogos?
Nem todos os jogadores enfrentam enjoo de movimento em jogos, e essa variação está associada a fatores como biologia, histórico de saúde e adaptação a estímulos visuais. Entre os principais elementos que influenciam essa sensibilidade estão:
- Predisposição genética: algumas pessoas possuem maior sensibilidade a conflitos sensoriais, aumentando as chances de sentir desconforto ao jogar;
- Histórico de enxaqueca: estudos mostram que indivíduos com enxaqueca costumam ter um sistema neurológico mais reativo a desequilíbrios sensoriais, o que os torna mais propensos ao cybersickness;
- Idade: crianças são mais suscetíveis porque seu sistema vestibular ainda está em desenvolvimento, tornando-as mais sensíveis a estímulos confusos;
- Adaptação gradual: com o tempo, algumas pessoas desenvolvem maior tolerância. Assim como ocorre com o enjoo em transportes, a exposição repetida aos jogos pode levar o corpo a se acostumar aos estímulos, embora esse processo varie entre indivíduos.
Quais jogos e elementos mais causam enjoo?
Certos jogos e características específicas da jogabilidade aumentam as chances de causar enjoo de movimento. Isso acontece porque alguns elementos acentuam o conflito entre o que os olhos percebem e o que o corpo sente, resultando em uma experiência desorientadora.
- Perspectiva em primeira pessoa (FPS): a ausência de um ponto fixo de referência desorienta o cérebro. Jogos nesse estilo criam uma sensação de deslocamento sem que o corpo esteja realmente se movendo, tornando o enjoo mais provável;
- Movimentos bruscos de câmera: a rotação constante da visão, mudanças abruptas de ângulo e efeitos de câmera instável intensificam o desconforto;
- Efeitos visuais intensos: brilho excessivo, contrastes exagerados e filtros gráficos que simulam tremores ou borrões sobrecarregam os sentidos e dificultam a adaptação;
- Baixa taxa de quadros por segundo (FPS baixo): quando a fluidez do jogo não é consistente, a percepção de movimento fica irregular, tornando a adaptação ainda mais difícil para quem já tem sensibilidade ao problema.
Como evitar o enjoo de movimento ao jogar?
Para aqueles que sofrem com cybersickness, algumas mudanças simples tornam a experiência mais confortável e reduzem os sintomas ao jogar.
Ajustes no jogo, no ambiente e na forma como você se expõe aos estímulos auxiliam o cérebro a processar melhor as informações visuais, minimizando o conflito sensorial. Veja algumas dicas que preparei:
Ajuste de configurações no jogo
Alguns efeitos gráficos e movimentos de câmera podem tornar a experiência mais instável, dificultando a adaptação do cérebro ao que é exibido na tela. Giros rápidos, desfoques e a sensação de “visão de túnel” acabam intensificando o mal-estar, mesmo para quem não costuma sentir desconforto com jogos de ritmo acelerado.
Felizmente, muitos desses fatores, quando ajustados, são capazes de suavizar os estímulos visuais e tornar a jogabilidade mais fluida. Algumas configurações que fazem diferença incluem:
- Aumente o campo de visão (FOV): um FOV mais amplo reduz a sensação de espaço limitado e melhora a percepção do ambiente, tornando o movimento mais natural;
- Desative o motion blur e o head bobbing: o borrão de movimento e o balanço da câmera acentuam a instabilidade, dificultando a adaptação e aumentando a possibilidade de tontura;
- Reduza a sensibilidade da câmera: suavizar a velocidade dos giros e transições evita mudanças bruscas de ângulo, tornando os movimentos menos agressivos e mais fáceis de acompanhar.
Use referências visuais fixas
Quando os olhos não encontram um ponto de apoio estável na tela, a desorientação e o desconforto se tornam mais intensos. Esse efeito acontece porque o cérebro precisa de uma referência fixa para processar os movimentos de forma mais natural.
Para reduzir essa confusão sensorial, algumas estratégias ajudam a estabilizar a percepção:
- Mantenha o olhar em um ponto fixo: escolher um elemento central da interface evita que os olhos se movimentem de forma excessiva e melhora a adaptação ao jogo;
- Ative uma mira estática: caso o game não ofereça essa opção, um adesivo discreto no centro da tela pode servir como referência constante.
Controle a iluminação e ventilação do ambiente
O ambiente onde se joga influencia diretamente como o corpo responde aos estímulos visuais. Luz inadequada e falta de ventilação podem intensificar a fadiga ocular, aumentar a sensação de mal-estar e tornar os sintomas mais evidentes.
Algumas medidas tornam o momento mais agradável, evitando que o problema se intensifique:
- Jogue em um espaço bem iluminado: ambientes escuros elevam a tensão nos olhos e dificultam a adaptação às mudanças rápidas da tela;
- Garanta boa circulação de ar e temperatura equilibrada: um ventilador ou ar-condicionado melhora a sensação de conforto, além de aliviar sintomas como tontura e náusea.
Acostume seu cérebro aos estímulos
Para quem sente desconforto com frequência, adaptar-se progressivamente aos jogos é uma estratégia eficaz. Assim como o corpo pode se acostumar a viagens de carro ou barco após repetidas exposições, a exposição controlada aos games permite que o cérebro processe os estímulos de forma mais equilibrada.
Confira algumas práticas que tornam esse processo mais eficiente:
- Comece com sessões curtas e aumente o tempo progressivamente: iniciar com períodos de 5 a 10 minutos permite que o cérebro assimile os estímulos sem sobrecarga;
- Faça pausas regulares: interromper a jogatina a cada 20 a 30 minutos reduz o esforço ocular e evita a exposição prolongada a movimentos intensos.
Vale a pena insistir ou é melhor mudar de jogo?
Mesmo com ajustes, alguns jogos continuam causando desconforto, tornando-se uma situação frustrante. Nessas situações, é importante avaliar se as mudanças estão trazendo resultados ou se insistir acaba tornando a jogabilidade mais desgastante do que prazerosa.
Se as modificações reduzirem o desconforto, manter sessões curtas e aumentar gradualmente o tempo de exposição ajuda o corpo a se adaptar aos estímulos visuais sem sobrecarga.
No entanto, caso os sintomas persistam, escolher títulos com menos movimentação brusca e efeitos visuais mais suaves torna-se a melhor alternativa para evitar o mal-estar recorrente.
No meu caso, mesmo testando diferentes configurações, precisei devolver MiSide e nunca consegui finalizar Tomb Raider. O mesmo aconteceu com Hogwarts Legacy, um jogo que queria muito jogar, mas que acabou se tornando inviável por conta dos sintomas.
Em algumas situações, mesmo com adaptações, o desconforto persiste, e a melhor decisão é buscar alternativas que ofereçam uma experiência mais agradável. Por isso, tenho optado por games mais estáticos e em 2D, que me permitem continuar com a diversão sem precisar enfrentar os sintomas do enjoo de movimento em jogos.
Além disso, evito títulos com gráficos extremamente realistas ou carregados de efeitos visuais, já que esses elementos intensificam a sensação de desorientação. Essa mudança tem sido essencial para manter a diversão sem comprometer o bem-estar.
E você, já passou por isso? Como lidou com o problema? Compartilhe sua experiência!